Vozes do Joelma: Os gritos que não foram ouvidos - Marcos DeBrito, Marcus Barcelos, Rodrigo de Oliveira, Victor Bonini, Tiago Toy

ISBN-13: 9788595810884
ISBN-10: 8595810885
Ano: 2019
Páginas: 288
Idioma: português
Editora: Faro editorial
Recebido de Parceria com a Editora

Sinopse - Marcos DeBrito, Rodrigo de Oliveira, Marcus Barcelos e Victor Bonini são autores reconhecidos pela crueldade de seus personagens e grandes reviravoltas nas narrativas. As mentes doentias por trás dos livros A Casa dos Pesadelos, O Escravo de Capela, Dança da Escuridão, Horror na Colina de Darrington, Quando ela desaparecer, O Casamento, Colega de Quarto, e da série As Crônicas dos Mortos, se uniram para criar versões perturbadoras sobre as tragédias que ocorreram em um terreno amaldiçoado, e convidaram o igualmente perverso Tiago Toy para se juntar na tarefa de despir os homicídios, acidentes e assombrações que permeiam um dos principais desastres brasileiros: o incêndio do edifício Joelma. O trágico acontecimento deixou quase 200 mortos e mais de 300 feridos, além de ganhar as manchetes da época e selar o local com uma aura de maldição. Esse fato até hoje ecoa em boatos fantasmagóricos que envolvem a presença de espíritos inquietos nos corredores do prédio e lendas sobre lamúrias vindas dos túmulos onde corpos carbonizados foram enterrados sem identificação. Algo que nem todos sabem, é que muito antes do Joelma arder em chamas no centro de São Paulo, o terreno já havia sido palco de um crime hediondo, no qual um homem matou a mãe e as irmãs e as enterrou no próprio jardim. Devido às recorrentes tragédias que marcaram o local, há quem diga que ele é assombrado por ter servido como pelourinho, onde escravos eram torturados e executados. E sua maldição já fora identificada pelos índios, que deram-lhe o nome de Anhangabaú: águas do mal. Se as histórias são verdadeiras não se sabe... A única certeza é que a região onde ocorreu o incêndio tornou-se uma mina inesgotável de mistérios. E, neste livro, alguns deles estão expostos à loucura de autores que buscaram uma explicação.
"Vozes do Joelma" é uma obra que comprova o talento dos nossos autores nacionais. Quatro autores talentosos reúnem em um único livro quatro histórias que conversam entre si de forma espetacular.
O foco central do livro está no edifício Joelma, que será o protagonista de todas as histórias. Quando um local sofre com algo tão forte, acredita-se que existe "algo" naquele local, que pode estar assombrando e desencadeando situações aterrorizantes.
Um situação tão trágica assim precisa de um narrador especial e é isso que o leitor observa: narrando em primeira pessoa os prólogos e epílogos de cada história, temos uma "entidade" que irá nos levar aos recantos mais obscuros do Edifício Joelma. A grande questão é: você está disposto a conhecê-los?

* Os mortos não perdoam - Marcos DeBrito - A primeira história se passa em 1948, no lindo e tranquilo bairro da Bixiga, onde os leitores irão acompanhar a vida de Pablo Ferreira de Camargo, um homem de quase trinta anos de idade, que trabalha como assistente de um professor na Universidade e possuí uma vida pessoal emocionalmente frustrante.
Pablo mora com a mãe e duas irmãs no antigo casarão. Com uma irmã com problemas sérios de saúde e outra com a cabeça na lua, ele é o provedor das três mulheres. Porém, ao invés de elogiarem seus esforços, todas as três, principalmente a mãe, tem personalidades castradoras e controladoras, o que faz com que o rapaz não consiga ter uma vida própria e viva constantemente frustrado, triste e pouco a pouco, perdendo um pouco de si.
Em um dia igual a todos os outros, Pablo toma uma decisão irreversível e as consequências serão terríveis...
Essa é uma história muito bem construída, onde temos uma visão geral da vida do personagem, mas que em alguns momentos ficamos na dúvida se tudo o que vemos e ouvimos é real. Não temos como precisar o grau de sanidade do Pablo ou que partes da sua percepção são imaginárias. E isso é a cereja do bolo!

"... algo precisaria ser feito antes que descobrissem o cemitério clandestino que o gramado se tornara." (p. 17)

* Nos deixem queimar - Rodrigo de Oliveira - Damos um salto no tempo e vamos parar na década de 70, onde conheceremos Samara, uma profissional ambiciosa, é vista como competitiva demais por seus colegas de trabalho e tem uma personalidade forte. Tenha sido por ambição profissional ou por uma genuína preocupação por terceiros, ela toma uma decisão que dará início a um dos incêndios mais assustadores que conhecemos.
Um dos pontos de destaque da história está exatamente a questão de altruísmo e interesse próprio da Samara. O leitor é apresentado a uma situação muito triste e vemos que a personagem toma uma atitude a respeito. Porém, conforme a narrativa se desenrola, ficamos nos perguntando se a ambição de Samara não foi o que a motivou a agir. Essa personalidade ambígua a torna atraente para o leitor, pois ficamos na dúvida se torcemos ou não por ela.

"Esfregou os olhos para afastar o sono e notou, em pânico, que a porta da sala estava escancarada, revelando a entrada dos demais apartamentos, os dois elevadores e a escada, além do mais assustador: a sequência de pegadas molhadas que terminava exatamente na poça na qual ela pisava." (p. 81)
* Os treze (Dividido em Parte I - Centelhas e Parte II - Incêndio) - Marcus Barcelos - Amilton é um homem simples, que teve uma vida sofrida. Criado apenas pela sua mãe, o personagem é muito introspectivo e não demonstra muita empatia pelos demais. É um homem trabalhador e dedicado, mas não é o tipo de pessoa que faz um favor sem receber algo em troca. Sua história é dividida em antes e depois do falecimento de sua mãe. Após altos e baixos em sua vida, Amilton vai trabalhar no cemitério local, e é lá que ele irá presenciar em primeira mão os horrores que acometeram 13 vítimas do Edifício Joelma.
Após o enterro feito as pressas para essas vítimas, o cemitério e seus funcionários nunca mais foram os mesmos. Barulhos estranhos, gemidos e sensações capazes de eriçar os pelos da nuca vão fazer parte do cotidiano do local.
"Eles choravam e se lamentavam, alguns sem cabeça, outros com quase metade do corpo faltando. Um deles, o mais próximo, tocou a minha testa com a sua mão carbonizada, provocando uma horrível sensação de queimadura." (p. 165)

* O homem na escada - Victor Bonini - a quarta e última história, conta os detalhes da ocupação do edifício após o incêndio. Vivendo situação precária, centenas de famílias ocuparam o local abandonado, inclusive dona Solange e sua filha Eugênia, que acaba engravidando de um "traste", porém braço direito do líder local, o Dinei. O cotidiano dos moradores é uma questão de sobrevivência.
Solange é o tipo de pessoa que abaixa a cabeça e tenta passar despercebida nas situações, para não ser alvo de confusões. Mas a situação da filha, a violência que ela presencia e a sua realidade chegam a um ponto que a personagem toma uma atitude.
Um dos pontos altos da história foi o autor Victor Bonini ter mesclado e o terror sobrenatural com o terror social, o medo e o instinto de sobrevivência de cada um.
A jornada de dona Solange é impactante. Observamos toda a sua história, até ela chegar no ápice e cair em uma espiral de desespero e até mesmo, um pouco de insanidade.

"Ele deixou uma marca em mim. E por isso, naquele dia, decidi que ia deixar a minha marca nele." (p. 257)

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