Resenha: Jamais subestime os peões: eles valem uma rainha - Celina Moraes

 
Sinopse - A desilusão amorosa de Raquel muda não só sua vida, como culmina na prisão do pai, que é fichado. Revoltada, promete um dia rasgar em praça pública aquela ficha. Desiludida, cavalgar e jogar xadrez são as únicas paixões, até que as peças deste tabuleiro mudem.
“Jamais subestime os peões: eles valem uma rainha” é uma história que é dividida em estações do ano, que se inicia em 1987. De forma mais ampla, conta a história de dois grupos: o primeiro, que está localizado na pequena cidade de Otinga e o segundo, que está na grande São Paulo.

Otinga é aquela cidade do interior, onde todo mundo se conhece e que a diversão ocorre na praça central. Tem um ritmo próprio, tranquilo, muitas vezes até mesmo idílico. É lá que conheceremos Raquel, a jovem galopeira, muito amada na cidade e vista como boa moça por todos. Sua família se resume em seus pais, pessoas amorosas, mas com visão de vida diferente e expressam seu amor e preocupação de modo diferente também. Raquel é vista como uma moça séria, que tem um relacionamento duradouro com Daniel (com quem fez planos para a vida e esperava noivar) até que sofre grande desilusão e no meio da confusão, seu pai Gamaliel acaba sendo preso. Após essa injustiça, várias situações vão se acumulando, de forma que Raquel começa a se ressentir. Apesar desse sentimento, a protagonista não é uma pessoa amargurada, ela é solícita e até mesmo faz tudo ao seu alcance para manter a paz em sua casa e ajudar sua melhor amiga Dalila.

Raquel é uma pessoa ambiciosa, mas ciente de que não existem “atalhos” para alcançar seus sonhos, o que acaba gerando alguns conflitos com Dalila, que vê a pobreza monetária da sua família como uma doença e sente uma necessidade angustiante de conseguir uma “boa vida” o mais rápido possível. Apesar de terem personalidades completamente opostas, Raquel é o tipo de pessoa que é leal até o fim, e não desiste de manter Dalila no bom caminho.

Vale ressaltar a história se passa em um momento (apesar de não fazer tanto tempo assim) no qual as mulheres eram severamente rotuladas quando não agiam da maneira que a sociedade esperava (o que incluí sofrer assédio calada).

Conforme a história de Raquel se desenrola, ela percebe que apesar de amar Otinga, talvez não seja possível conquistar seus sonhos vivendo lá para sempre. É quando ela dá um grande salto de fé e se muda sozinha para São Paulo.

No núcleo de São Paulo temos Aron, um homem de quase 30 anos de idade e seus pais, Maria Clara e Danton, moradores do Jardim Europa. Danton é um empresário de sucesso, abastado, que depositou em seu filho seus sonhos frustrados de estudar no exterior. Aron, sempre teve de tudo e nunca realmente se esforçou para conseguir algo, retorna ao Brasil com ideias diferentes das do seu pai, o que inicia um conflito de gerações entre eles.

Aron começa a trabalhar em uma empresa de um amigo de seu pai e conhece Rafael, um jovem que tem origens humildes e luta para se destacar, enquanto que seu pai Danton, conhece a jovem Mirela, secretária de um dos departamentos da sua própria empresa. Ao conhecer esses dois indivíduos, a história de Aron e Danton se altera completamente, o que impactará a trajetória de ambos.

Como vocês podem imaginar, há uma fusão desses dois núcleos e somos levados a refletir sobre diversos temas, como a desigualdade social, o papel da mulher na sociedade, o preconceito, o amor e o perdão.

Cada personagem traz consigo um pedaço importante do enredo, pois sua história e trajetória nos ensina uma lição, seja ela de superação ou infelizmente, de declínio. O amadurecimento que vem com a idade ensina a deixar a raiva para trás e a focar no futuro para alguns personagens e também a saber quando a amadurecer e compreender a diferença entre ganhar algo e conquistar por mérito próprio.

Achei muito interessante o uso do xadrez como metáfora no livro, ainda mais pelo fato de que alguns personagens podem ser considerados “peões” (no sentido rural e no sentido do jogo), o que foi uma jogada da autora muito inteligente.

Celina Moraes mais uma vez escreve uma obra capaz de nos conectar com os personagens, seja por suas semelhanças ou por suas diferenças. São as imperfeições de cada um desses e outros personagens que nos permite ler a obra e se sentir como parte dela, seja como uma amiga aconselhando ou até mesmo brigando diante de uma decisão tomada, essa capacidade de aproximar leitor e personagem é uma característica rara, um dom que nem todos possuem.

A autora descreve a vida como ela é. Não existe perfeição, muitas vezes tropeçamos, temos que recomeçar do zero ou procurar outro caminho. É essa persistência que existe no ser humano que é transmitida para os personagens da obra. Nem sempre é uma história bonita, mas é uma história de vida. A leitura passa o sentimento de algo palpável, vivo e real.
“O xadrez também é um jogo que ajuda vocês a conhecerem seus pontos fortes e fracos, o que é essencial na luta para conquistarem o que sonham da vida.” (p. 172)

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